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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Angola 2007- Parte II - Publicado a 6/05/2011

Vim para Angola em Outubro 2006. A minha primeira paragem foi no Sumbe na Província do Kwanza Sul. Vim sozinha e à aventura.
Em Portugal ficou o meu coração. Todo o resto do meu corpo veio comigo. Não aguentei mais de 24 sem chorar. Na primeira noite estava chocada. No percurso Luanda-Sumbe encontrei muitas crianças descalças, muitas palhotas. Pensava encontrar uma Angola destruída pela guerra, mas nada me preparou para tanta pobreza. Jantamos no melhor restaurante da cidade em que cada prato de comida custava 2.500 kz e ao lado miúdos lavavam os carros por 100 kz. Estava na terra dos contrastes.

Adormeci a chorar envolvida na rede mosquiteira e com um cheiro intenso a repelente. Lembro-me de acordar no primeiro dia e pensar que era um sonho. O nascer do dia neste lado do hemisfério começa as 5:30 da manha e logo com um sol enorme a entrar-me pela janela. Na primeira semana quase que caia da cama a pensar que tinha adormecido e que já deveriam ser umas 10 horas. Depois os olhos habituaram-se e o corpo já não estranahva.

É duro estar sozinha em Africa. È duro não ter ninguem com quem falar. E era ainda mas duro almoçar e jantar sem companhia. Nunca na vida me tinha sentido tão sozinha! O tempo demorava uma eternidade a passar e não havia muito para me entreter. Os livros que trouxe (uns 10) foram todos lidos nas primeiras 2 semanas. Depois valia-me a TV ou então o laptop ainda sem internet.

Na primeira semana levaram-me a visitar a obra que iria supervisionar. Sumbe-Gabela-Quibala. 167 km que demoraram 6 a 7 horas a fazer. Já na quibala cai para o chão de tão enjoada que estava. Nessse dia naõ almocei e também não tive coragem para jantar. Estava com o estomago e a alma toda embrulhada. Queria falar com os meus, queria algum conforto e não tinha rede no telemóvel.

Foi a primeira e unica noite sem falar com os meus pais e com o G. O quarto de hotel /pensão era com telhado em capim e esquisitinha como sou pus-me logo a inspecioná-lo até descobrir 2 belas aranhas que tinham feito lá o seu lar. Resultado: vim dormir para o pátio. Arranjei 2 cadeiras de plástico e por ali fiquei a dormitar, sempre atenta aos mosquitos e ás estrelas que me velavam o sono. Foi o céu mais bonito que alguma vez vi na vida. E apensar das dores de estomago, e das dores do coração consegui ver beleza no ceu que me cobria.

Até o G vir para a minha beira nunca mais voltei à Quibala. Ao fim de 2 semanas fiquei doente. Não sabia o que tinha. E o que começou com uma simples diarreia do viajante começou a deixar-me fraca. Entre suspeições de Tifo e Malária andei num fernezim entre Sumbe e Luanda e sempre como mais e mais medicação que não surtiam efeito nenhum. A obra ia-se desenrolando devagar e o tempo multiplicava-se entre visitas à obra ou repouso forçadopor mais uma noite doente. Havia até que brincasse a dizer que o meu mal era saudades ou falta de mimo.

Verdade seja dita que não house um unico dia em que me não me arrependesse de ter vindo, em que dizia aos meus pais que queria ir embora e em que o meu pai me contrapunha que tinha sido uma escolha, que tinha de ser corajosa, que já faltava pouco e que os objectivos eram para cumprir. Soube mais tarde que sempre que desligava o telefone e depois de me encorajar ele ficava  deprimido e só dizia à minha mãe que vinha buscar a menina dele.

A 28 de Novembro voltei a Portugal já com a certeza que só voltava se fosse acompanhada. As condições que tinha eram boas, o salario era ainda melhor, mas eu sou menina dos papás, menina de mimos e afectos. Sem companhia não iria voltar. Diria adeus a Africa com um sentimento de nunca mais.

 Já em Portugal descobri que a minha doença era uma intoxicação medicamentosa. Os comprimidos africanos são muito fortes, especialmente para uma miuda de 50 kg. Nstes 2 meses Angola ficou marcada por coisas boas e coisas más. Conheci 3 pessoas fantásticas: o Paulo (que em Portugal era Angolano e em Angola era Portugues), o Deva e o Malu dois Mauricianos que me abriram o coração e as portas de casa deles ( por falar nisso ainda lhes devo uma visita às Mauricias!).

Lembro com saudade os mata-bichos digno de hotel feitos pela D. Eugénia, dos seus bifes na panela e chás de erva rainha quando as cólicas apertavam. Relembro com saudade o por-do-sol purpura da Gabela, e o laranja fogo do Sumbe. Relembro o cheiro do cabrité e da terra molhada, do mato tropical a perder de vista e das cobras e macacos que habitavam entre o pé-de-cafe, bananeira e dem-dem.

Lembro-me de todas as lagrimas de todos os choros e de todos os apertos no peito que tive. Na altura pensava que me iriam matar, mas estava enganada. Tornaram-me mais fortes, mais mulher, mais lutadora. Hoje não me arrependo um unico minuto desses dias que passei sozinha. Fui obrigada a crescer e pela primeira vez na vida a enfrentar dificuldades. Aprendi que nada é em vão e que podemos tirar lições de todas as situaçõe da nossa vida sejam elas boas ou más.

Agradeço a Africa a oportunidade de me ter obrigado a crescer e a entender que o mundo de fadas não exite. Mas também agora vos digo. Este mundo cão é bem mais interessante de se viver!

Eu e Angola Estamos juntas...
para sempre

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