TABS

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Será que é a isto que chamam amadurecimento?

Deixei de ter pachorra para a simpatia de borla. No outro dia confidênciei pela primeira vez uma situação que me perseguia à muito e senti-me mais leve.
Deveria ter por volta de 17 anos e na faculdade, numa qualquer cadeira de psicologia ou uma merda do género (sim antes de ser engenheira tive um ano com a mania que era artista e fui estudar cinema) tiramos um papelinho de uma tombola e tínhamos de descrever a pessoa em 3 palavras. Aos poucos lá fomos correndo colegas sempre com palavras carinhosas e delicodoces. Quando chegou ao meu papel (que por acaso tinha ido parar à mãos de uma das gajas que mais curtia na sala levei um baque.
Fria, Orgulhosa, Arrogante!
Fiquei a olhar para a sala à ver quem teria tamanhos defeitos e nenhuma virtude (no meu ponto de vista claro).
Em menos de 5 segundos várias vozes se levantaram. MARY! E eu só pensava: Estes gajos estão doidos!! Mas afinal não. Era mesmo a minha descrição. Senti-me aos poucos a encolher, a ficar pequenina, sentir o chão fugir debaixo dos pés não é coisa agradável de sentir num anfiteatro cheio de pessoal. E nos filmes de cinema deles eu seria para sempre a vilã.
O que eles não sabiam é que eu era a tímida, a envergonhada. Que estava em cinema, com 17 anos, que era virgem, que não fumava ganza, que não andava a percorrer as caves obscuras do Porto. Daí ser diferente e não saber como me encaixar naquele "mundo" tão novo para mim. Ter a ânsia de me sentir enquadrada no mundo deles sem perder os valores porque sempre regi a minha vida (menina de coro criada em colégio de freiras).
 
Desde esse dia a minha vida mudou. Mesmo quando queria chorar sorria. Sorria para toda a gente. Perdi a capacidade de confiar na minha primeira impressão que sempre tinha sido tão certeira. Perdi a capacidade de ser genuína e só amar quem o meu coração ditava. Durante todos estes anos vivi no dilema de ser simpática para as pessoas, mesmo quando não as gramava. Porque queria passar uma imagem diferente, porque queria que não me vissem como a vilã. Queria que as pessoas se lembrassem de mim pela positiva. Como aquela que ajuda, que está sempre disponível, que nunca diz não. Mesmo que isso me estivesse a matar aos poucos. Passei a viver não a minha vida mas através do reconhecimento dos outros.
 
Havia alturas que sufocava. Porque pensava que algumas pessoas que me olhavam bem nos olhos conseguiriam ver algum do fingimento. Que me iriam topar à distancia. Então mentalmente vinham as ordens: Sorri, fala muito, concorda com tudo o que dizem. E assim fui vivendo com medo de magoar e ser magoada novamente.
 
Esse baque perseguiu-me até à umas semanas atrás. Quando finalmente o verbalizei. Quando decidi que era tempo de expulsar os demónios que habitavam aqui à muito. 
 
E o que senti? Alivio. Porque as pessoas têm de gostar de mim pelo que sou e não pelo que querem que eu seja. Porque eu sou simpática, sou solicita, sou amiga para quem realmente merece fazer parte da minha vida. A vida tem mostrado que os amigos que nos conhecem realmente ficam para a vida. Quem estejamos a 1km ou a 8000 km de viagem. Os amigos metem-se num avião assim que podem quando sabem que outro amigo a 8000km de distancia tem a vida a ruir. E vai sem cobrar nada, apenas para o ajuda a erguer novamente as paredes e a limpar os estilhaços que a guerra deixou. Os amigos preparam o coração e a casa dias antes da chegada para que quem chegue se sinta em casa. Tudo isto sem cobranças, sem exigir nada em troca. Apenas pela companhia e pelas risadas.
 
Os outros, aqueles que tentei agradar ao longo dos anos já cá não estão, já não fazem parte da minha vida. Desse ano num Mundo que não era o meu não ficou ninguém. Foi um ano vazio (valeu apenas para conhecer o G que também não fazia parte desse mundo). Um ano com lembranças boas e lembranças más, mas que não me trouxe ninguém para o presente e muito menos para o futuro.
 
Finalmente sinto que cortei as amarras com este passado que me perseguia. O amor que tenho está agora muito melhor direccionado. Para quem merece, para quem me merece.

2 comentários:

  1. O fingimento topa-se a léguas e é uma perda de tempo. É melhor poucos amigos, mas verdadeiros!

    Gosto muito de ti... como tu és, realmente!

    Beijo!

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